08 maio 2009

Macabra sorte


Estava com um amigo numa lotérica.
"Quer ficar milhonario?"
"Eu não vou usar minha sorte nesse tipo de jogo." respondi.
"Já te contei a historia do meu avô?" perguntei então.
Disse que não, contei-lhe a seguinte historia:

Meu avô era um homem muito culto e viajado. Esteve na Italia na Segunda Guerra e tantas outras mil historias que viveu. Aposentado, era um homem que religiosamente jogava na loteria para tentar a sorte grande. Fazia estatisticas e probabilidades dos números que poderiam sair. Lembro quando criança que ele pedia para preencher uns números naqueles cadernos quadriculados. E por isso me presenteava com algum agrado.
Numa manhã, quando tinha 72 anos de idade, estava em casa escutando os resultados da loteria. Conferiu o comprovante em sua mão. Ganhou na Quina. Colocou o comprovante no bolso e saiu apressadamente. Dentro do seu quintal, a bainha de sua calça agarrou-se num motor velho fazendo meu avô despencar nos seus mais de noventa quilos e bater a testa numa muretinha. Também quebrou a primeira e segunda vertebra, ficando tetraplégico.
Graças ao valor considerável do prêmio minha mãe pôde contratar os melhores médicos para operarem meu avô. Que diziam que ele tinha pouquissima chance de sobreviver àquele tipo de operação, se o fizesse, não moveria mais o corpo. Sobreviveu. Tratamentos, fisioterapia diária. Um ano depois já dava alguns passos. Tenho nítida na memoria a imagem do meu avô andando como se fosse um bebê gigante (usava fraldas). "Olha o robô. Olha o robô." Dizia enquanto caminhava e ria.
Morreu alguns meses depois.



isso.